Estamos chegando ao segundo episódio do quadro histórias de sucesso. Esse é o quadro onde a gente fala da vida de grandes personalidades bem sucedidas, porque ao estudar a vida dessas pessoas, como elas pensavam, como elas agiam, a gente pode internalizar os hábitos que as levaram a chegar no topo.
Então se você gosta da ideia desse quadro, deixa o seu like, porque assim eu entendo que esse é o tipo de conteúdo que você quer continuar assistindo e por isso eu fico mais motivado a fazer mais e mais vídeos desse tipo.
Jorge Paulo Lemann é um brasileiro nascido em mil novecentos e trinta e nove diretamente na minha cidade natal, Rio de Janeiro e desde criança ele tinha uma vida financeiramente confortável. Seu pai Paulo Lemann era um imigrante suíço que veio abrir uma empresa de queijos e laticínios aqui no Brasil que posteriormente foi vendida para ninguém menos que Hélio Moreira Salles o irmão do fundador do Unibanco.
Aos sete anos de idade o pequeno Jorginho começou a praticar tênis lá no country clube do Rio no bairro de Ipanema que era um grande reduto da alta sociedade. Tênis foi o esporte que o acompanhou durante boa parte da sua juventude. Jorge chegou a ganhar diversas competições infantis inclusive acabou se tornando campeão brasileiro juvenil aos dezessete anos de idade.
Mas não pensa que o mano era só talentoso além da conta não, ele era, mas o jovem Jorge acordava às cinco horas da manhã todos os dias, ia dar uma corrida na orla do Leblon e depois pulava o muro do Country para bater uma bolinha antes das suas portas abrirem.
Jorge Paulo Lemann não ia para baladas, não tomava álcool, na verdade não toma até hoje e não comia comidas gordurosas nem carne vermelha, tudo isso pelo foco de se manter competitivo para conseguir disputar e ganhar as competições de tênis que ele participava. Mas quando Jorge não estava jogando tênis, ele poderia facilmente ser encontrado pegando ondas nas maravilhosas praias da zona sul do Rio e segundo a sua modesta avaliação ele era um dos melhores surfistas do Rio de Janeiro.
Aos quatorze anos de idade seu pai foi atingido por um bonde no bairro de Botafogo, infelizmente faleceu, apesar disso Jorge Paulo Lemann sempre manteve seu foco tanto nos esportes quanto nos estudos, seus pais sempre quiseram que ele frequentasse a melhor educação possível, então Jorge frequentava a escola americana do Rio de Janeiro e até hoje é uma das melhores escolas da cidade.
Aos dezessete anos, prestes a se formar, Jorge Paulo Lemann foi eleito pelos seus colegas de classe como o estudante most likely to succeed, ou tradduzindo para o português, o aluno com as maiores chances de ser bem sucedido. E parece que seus amigos acertaram em cheio.
Logo depois de se formar, o jovem Jorge foi aceito para estudar economia na Harvard University, coisa que caso você se lembre do último vídeo do histórias de sucesso, nem o próprio Warren Buffet conseguiu, mas em semelhança o Warren Buffet por outro lado, Jorge Paulo Lemann também odiava a faculdade, ao passar os primeiros meses estudando no campus, o garoto surfista de praia não tinha mais onda para surfar e morria de frio no campus, então para externalizar a sua rebeldia como ambiente que estava, em certo dia no seu primeiro ano de faculdade, Jorge Paulo decide soltar fogos na Harvard Yard, a principal praça da universidade.
Essa molecagem quase custou sua vaga na faculdade e ele foi recomendado a se afastar por um ano, num primeiro momento Jorge ficou amarradão, porque ele achava o dia a dia em Harvard uma aporrinhação sem fim e ficou tentado em usar isso como uma desculpa para largar de vez a faculdade, mas ele mudou de ideia e decidiu que se ele fosse sair da faculdade, ele ia sair direito.
Ele voltou para Harvard, afinal a carta recomendava sua saída, não obrigava, e aos vinte anos de idade Jorge terminou o curso em dois anos ao invés do três que ainda faltavam, afinal se aquilo era uma chatisse, que pelo menos acabasse logo.
Então os seus vinte anos em 1959 depois Jorge Paulo Lemann ter se formado, ele decide continuar adquirindo experiências no exterior. O seu plano era aprender com os melhores para depois voltar, implementar o que ele aprendeu no Brasil.
Então ele fez uso da sua dupla cidadania graças ao seu pai suíço e foi trabalhar na Credit Suisse, mas o que era para ser uma grande oportunidade de crescimento se tornou num grande pesadelo. Pela primeira vez o Jorge trabalhava em uma instituição de grande porte com hierarquia rígida e processos rigorosos, e sete meses depois o cara picou a mula.
Com isso ele se decidiu a começar a se dedicar exclusivamente ao tênis, disputou torneios na Suíça e foi até convidado a defender a equipe local na copa Davis, mas na sua estreia, Jorge Paulo Lemann perdeu descaradamente por três sets a zero, o que foi um verdadeiro fracasso em relação aos seus padrões.
Ele se manteve como tenista profissional por mais um ano e meio na Europa, mas ainda vivia um problema, ele disse numa entrevista dessa época o seguinte pelo tanto que eu jogava, dificilmente eu estaria entre os dez melhores do mundo, então eu resolvi parar já que eu não seria um astro.
É meu amigo, ganhar a vida exercendo uma atividade em que Jorge Paulo Lemann não estaria entre os melhores do mundo nunca fez parte de seus planos. Então em 1963 aos seus vinte e quatro anos, Jorge Paulo Lemann retorna ao Brasil e começa a trabalhar na Invesco, uma pequena empresa que concorria com os grandes bancos no setor de concessão de crédito.
Lá, Jorge Paulo Lemann teve a brilhante ideia de começar uma bolsa de valores paralela, em que os papéis eram vendidas por telefone fora do horário de pregão. Essa bolsa de valores foi um sucesso e em certo ponto chegou até a movimentar o equivalente a cinco por cento de todo o volume negociado na bolsa de valores brasileira.
Graças ao seu desempenho astronômico, Lemann conseguiu uma participação de dois por cento na empresa que o tinha contratado, o problema é que Jorge Paulo Lemann ficou tão animado com o crescimento do seu novo negócio que não percebeu os problemas que se acumulavam nos bastidores.
Tinha mais dinheiro saindo do que entrando, então em 1966 quando Lemann tinha aí seus vinte e sete anos de idade, sem controles para a concessão de crédito e com uma administração meia bomba, a Invesco quebrou e com isso todo valor que Jorge Paulo Lemann tinha em equity pelos seus dois por cento de participação viraram pó e com uma lição importante, em qualquer tipo de negócio é preciso tomar tanto cuidado com o dinheiro quanto com o que sai.
Então em 1967 Jorge Paulo Lemann foi oferecido treze por cento de participação para trabalhar em uma corretora chamada Libra e como era de costume na vida desse cara, ele fez é óbvio a corretora deslanchar, só que conforme o seu tempo dentro da empresa ia passando, ele ficava cada vez mais insatisfeito, a corretora tinha uma regra que impedia o oferecimento de participação ao negócio para funcionários de alto desempenho, só que oferecer participação no negócio para funcionário de alto desempenho era justamente a melhor forma de conquistar os melhores talentos e manterem eles dentro do negócio.
Então depois de três anos com Jorge vendo que não conseguiria aumentar a sua participação na empresa, nem oferecê-la para outras pessoas, ele ofereceu comprar a participação dos seus sócios da empresa para ganhar o controle dela e poder fazer o que ele bem entendesse.
Só que acabou não tão bem quanto o esperado e os sócios que ele ofereceu comprar participação ofereceram comprar a participação dele. Então atritos já tinham sido criados e Jorge Paulo Lemann decidiu aceitar sem questionamentos.
Mas isso não foi de longe tão ruim, porque em 1970 aos trinta e um anos de idade por causa da venda da sua participação Jorge Paulo Lemann acabou embolsando uma bolada de duzentos mil dólares, o que meu irmão, em qualquer época é muito dinheiro.
Então agora dono do próprio nariz e todo endinheirado ele finalmente poderia dar início ao modelo de gestão que ele tanto sonhava implementar, a sua nova ideia era comprar uma corretora, mas ele ainda não tinha tanto dinheiro para isso.
Então ele procurou investidores que juntos levantaram oitocentos mil dólares e em 1971 eles adquiriram uma corretora chamada Garantia. Garantia ficava no edifício avenida central na Avenida Rio Branco aqui no Rio de Janeiro e ela ocupava três salas sem ar condicionado, sem secretária e com três telefones, mas para os sócios isso pouco importava, eles estavam de olho no potencial da bolsa de valores do Rio.
Você vê, entre janeiro de 1971 até março a bolsa chegou a valorizar 48% e o volume negociado mais que dobrou nesse período, o problema é aquela coisa né cara, a bolsa sobe no boato e cai no fato. A alta no ibovespa era muito mais fruto de especulação do que crescimento real, então uma bolha foi se formando e como toda bolha, essa também estourou.
Dois meses depois da compra da corretora Garantia despencou e continuou caindo pelos próximos dezoito meses que vieram a seguir, isso aí até chegar nos seus 61% de desvalorização.
Jorge Paulo Lemann e seus sócios viam seu negócio minguar a cada dia que passava. Então nesse momento Jorge Paulo Lemann mais do que nunca precisava era de uma equipe afiada, era agora que ele poderia colocar em prática todos os princípios de meritocracia corporativa dos quais ele sempre sonhou.
Então ele adotou um modelo do Goldman Sachs, na época o banco mais influente e poderoso do mundo, ou seja, ele proibiu a entrada de familiares dos funcionários do negócio, eliminou salas enclausuradas e adotou um modelo onde os escritório do Garantia era na verdade um grande salão aberto, sem divisórias entre funcionários e sócios, porque para Jorge a falta de parede acabava com a privacidade de todo mundo, o que fazia com que todo mundo em todo o tempo estivesse sendo observado, o que incentivava a agilidade do trabalho grupo.
Jorge pagava salários baixos, mas oferecia um caminho claro para crescimento na empresa, ele fazia isso para incentivar os talentos, a darem o melhor de si e assim terem o direito de começarem a adquirir participação na empresa e futuramente começar a receber participação nos lucros.
Além disso ele ainda oferecia bônus semestrais, ou seja, o Garantia oferecia salários abaixo da média paga pelo mercado, mas atribuía metas que caso cumpridas poderiam ser remuneradas àqueles que as bateram com múltiplos do salário que ia até quatro, cinco vezes.
Todo mundo tinha metas claras e a regra era sempre a mesma, trabalhe bem e você será recompensado. Essa foi a forma de assegurar que todos se sentissem como donos do negócio e fazendo de tudo para a empresa crescer no longo prazo.
Os níveis hierárquicos eram separados em três extratos o pelotão de entrada em que os bônus eram os múltiplos dos seus salários, os comissionados que eram bonificados com uma participação entre 0,1 a 0,3% nos lucros da empresa e os sócios que além de receberem a comissão pelos lucros, também recebiam lucros proporcionais à participação que eles detinham da empresa.
Toda cultura do Garantia era voltada para otimizar a eficiência na geração dos lucros e Jorge Paulo Lemann era extremamente adepto à cultura que ele criou, ele é uma pessoa simples, não tinha secretária particular, não usava relógio de grife e não dirigia carrões importados.
Quando ele recebia gente para almoços no Garantia, ele dispensava garçons e ele mesmo servia os convidados, inclusive foi essa simplicidade que o salvou de um aperto no ano de 1991 quando Jorge Paulo Lemann dirigia pela estrada Rio Santos aqui no Rio de Janeiro e parou num posto de gasolina ao mesmo tempo que um grupo de assaltantes, só que o carro que ele estava dirigindo era um Passat com mais de dez anos de uso, então os assaltantes não deram a menor bola para ele e ele pode seguir viagem tranquilamente.
Nos anos iniciais do Garantia foram contratados dois funcionários que viriam a se tornar os dois grandes sócios e amigos de vida do Jorge Paulo Lemann, são eles Marcel Hermann Telles e Beto Sicupira, ambos eram os típicos casos de funcionários estrela no negócio, subiram rapidamente na escala hierarquica por causa dos resultados exorbitantes que eles traziam e pela sua alta produtividade e foram repetindo esse desempenho até finalmente acabarem como sócios.
E quando eles de fato se tornaram sócios, eles começaram com uma participação pequena, mas aos poucos quanto mais se provavam, mais os dois ganhavam espaço. Você vê, Marcel Hermann Telles e Beto Sicupira estão hoje na terceira e na quinta posição de homens mais ricos do Brasil e isso é tudo fruto da cultura implacável que Jorge Paulo Lemann criou no Garantia
A estimativa é que desde que a corretora foi criada em 1971, entre duzentas e trezentas pessoas que trabalharam nos diversos negócios do trio tenham embolsado mais de dez milhões de dólares cada uma, para quem conhece Jorge Paulo Lemann fica claro que o cara só se tornou bilionário de primeira grandeza porque ele enriqueceu centenas de pessoas no caminho.
No início da década de 80 o banco Garantia adquiriu as lojas americanas se tornando assim o primeiro banco a adquirir uma empresa de outro setor para atuar diretamente na sua gestão. Na época da venda as lojas americanas era uma empresa inchada, com tecnologia obsoleta de logística, muito mais funcionários do que devia e tinha uma subsede sendo construída lá na Barra da Tijuca que incluia uma quadra de tênis para proveito dos funcionários de alto escalão e além disso tinha uma política de bônus em que mesmo os piores resultados era suficientes para pagar o bônus da galera no final do ano.
Então o escolhido como responsável para reerguer as lojas americanas foi Beto Sicupira, Beto obviamente cancelou o projeto da sede com quadra de tênis e implementou uma política de bônus muito mais agressiva assim como no Garantia.
Mas isso não foi nem um pouco recebido, teve uma reunião que ele fez com 35 executivos dos quais 3 somente concordaram com a proposta dos bônus agressivos, então ele demitiu os outros 32.
Mas esses não foram os únicos, Beto Sicupira chegou a demitir quarenta por cento de todos os funcionários das lojas americanas o que naquela época equivalia a 6500 pessoas.
Beto também viajou para o Arkansas nos Estados Unidos conversar com ninguém menos do que Sam Waltan, o dono da Walmart, ele fez isso para que o seu Walton o mostrasse as operações da mega varejista de forma que Beto pudesse adquirir esse conhecimento e implementar o mesmo no Brasil, afinal, porque começar do zero se é possível aprender com os melhores do mundo?
Em 1989 o banco Garantia também adquiriu a Brahma, cervejaria que na época estava completamente decadente, agora o escolhido para rodar a operação foi Marcel Herrman Telles. Durante as negociações para a aquisição da cervejaria que foi feita pelo valor de 60 milhões de dólares, muitos dos sócios do Garantia se opuseram completamente à aquisição, era época das eleições presidenciais disputadas por Fernando Collor e Luis Inácio Lula da Silva e os sócios falavam que se fosse o caso do Lula vencer, eles não iam conseguir nem pagar o financiamento para a aquisição e de troco iam acabar afundando todos os outros negócios que tinham.
Mas Jorge Paulo Lemann que sempre se considerou uma pessoa de bom senso e simples disse país tropical, marca boa, clima quente, população jovem e má administração. Pô, tem tudo aí para a gente transformar numa coisa grande.
Mas como é que um bando de banqueiro que não conhecia nada sobre cerveja ia começar a rodar um negócio nas escalas da Brahma? Pois é, Telles teve que chamar algumas pessoas para tocar o negócio com ele, inclusive uma delas era a Magim Rodrigues, o ex presidente da Lacta que você conhece popularmente como a pessoa que teve a brilhante ideia de colocar ovos de páscoa no teto das lojas.
Então nos meses que antecederam a aquisição, Magim ficou responsável por fazer diversas viagens internacionais para a Argentina, Chile, Alemanha, Estados Unidos, Japão, tudo para aprender como funcionavam as operações no mercado cervejeiro nas maiores empresas do mundo.
De novo, porque começar do zero se é possível aprender com os melhores? E mano, essa é uma baita lição para quem quer começar um negócio, não precisa saber de tudo antes de começar, basta ter fome para querer aprender e se dispor a aprender com quem sabe.
Então se você concorda, comenta aqui embaixo, eu busco aprender com os melhores, buscar aprender com os melhores funcionou muito bem com o banco Garantia que copiou a cultura do Golman Sachs, também funcionou com as lojas americanas que copiou o Walmart, e é lógico que também funcionaria para a Brahma, acontece que os grandes empreendedores do banco Garantia não fizeram sua lição de casa e só depois que eles assumiram o controle da empresa que eles perceberam que ela tinha uma dívida de 250 milhões de dólares.
A Brahma era um verdadeiro celeiro de burocracia, ineficiência e desperdício. Então como o Beto no caso das lojas americanas, Marcel Telles se viu obrigado a tomar medidas extremamente impopulares, cortou o benefício da previdẽncia da empresa para os executivos pela metade, dos gerentes em quase 40% e só saíram ilesos os funcionários de base.
Marcel também cancelou o 14º e 15º salários que eram pagos para os executivos de alto escalão e nessa brincadeira toda também chegou a demitir mais de 2500 funcionários que equivalia a mais de 10% de todos os funcionários do negócio, mas representavam 18% da folha de pagamento, o cara acabou até com as vagas prioritárias dos executivos nos estacionamentos, Marcel Telles coesamente dizia, amigão chega cedo que aí você consegue os melhores lugar e com toda essas medidas que reviraram a Brahma de cabeça para baixo e somente de dois anos da sua aquisição pelo banco Garantia, a Brahma foi eleita pela revista Exame como a empresa do ano.
Seus lucros triplicaram durante os dois anos e trinta e cinco por cento dos funcionários receberam um bônus que ia de três a nove vezes o seu salário. Obviamente o resultado do banco e das suas adquiridas estavam explodindo ano após ano.
Até que em 1994 sete por cento de todo volume negociado na bolsa de valores passou pelo banco Garantia, era o banco mais poderoso do país e pela primeira vez na história ele chegou a marca de um bilhão de lucro líquido, desse valor 90% foi distribuído entre os trezentos e vinte e dois funcionários, só que por mais que a fartura do banco e o sucesso das suas adquiridas dessem ao Garantia um grande senso de invencibilidade, imprevistos sempre acontecem.
Naquele mesmo ano Jorge Paulo Lemann sofreu um ataque cardíaco enquanto fazia um exame de esforço físico na clínica de São Vicente no Rio de Janeiro, com isso ele precisou se afastar da rotina de estresse extremo que ele tinha dentro do banco Garantia por mais de doze meses e como Telles e Sicupira estavam responsáveis pelas operações da Brahma e das lojas americanas respectivamente, nenhum dos três guardiões da cultura do banco Garantia estavam presentes no seu dia a dia.
Isso em conjunto com os resultados obscenos do banco fez com que seus valores de cultura e simplicidade frugalidade viessem calmamente se corroendo, porque com todo aquele dinheiro engordando o bolso dos sócios eles faziam aula de helicóptero para aprender a pilotar os seus novos brinquedinhos e compravam casas de luxo nas zonas litorâneas do Rio de Janeiro e São Paulo ou carros esportivos de luxo começaram a pipocar no estacionamento do banco.
O pensamento que todos tinham era o que há de errado em aproveitar todo aquele dinheiro, afinal não era pra ficar rico que todo mundo estava dando um diro danado? De fato, num primeiro momento não tinha problema nenhum, acontece que ao ficarem ricos rápido demais, o alcance da liberdade financeira tirava o foco para o que realmente importava, o crescimento da firma.
Porque pensa, se o objetivo da maior parte das pessoas lá dentro era ficar ricas, quando elas de fato ficaram ricas, elas podiam simplesmente parar de trabalhar e fazer o que bem entendessem, e só para você ter uma ideia da ordem de grandeza da riqueza, tiveram um bônus de passaram 20 milhões de reais naquele ano.
Bom, nenhuma companhia acaba da noite para o dia e não foi diferente com o banco Garantia, foram necessários anos de desgaste e corrosão da cultura para que o teto desabasse de vez.
Em 1997 a crise da Ásia pegou o banco em cheio e a turbulência financeira deixou claro que a cultura do banco tinha sido completamente subvertida. As perdas admitidas pelo banco na época foram a 110 milhões de dólares, os sócios tiveram que colocar dinheiro do próprio bolso para capitalizar o Garantia e mostrar para os investidores que o problema estava controlado.
Não adiantou, porque no final do ano por mais que eles conseguissem chegar a um pequeno lucro, a imagem do banco já tinha sido completamente destroçada, então a única saída encontrada por Lemann, Telles e Sicupira foi no final das contas vender o Garantia.
O comprador foi o gigante banco Credit Suisse que adquiriu o Garantia por um valor de 675 milhões de dólares, troco de bolso se comparado ao que o Garantia chegou a valer.
Com isso ficou uma lição, nunca mais Lemann e seus sócios descuidariam da preservação da cultura nas empresas que eles investiam.
Durante a década de 90 os negócios da Brahma estavam prosperando, mas havia uma outra rival no ramo que também fazia de tudo para adquirir mercado, a cervejaria paulista Antartica, então como direcionamento para uma estratégia de marketing, a Brahma rodou uma pesquisa para saber como os brasileiros pediam cerveja, as respostas foram gravadas em vídeo e várias vezes foram observados gesto dos brasileiros chamando o garçom para trazer uma outra gelada.
Nasceu o slogan Brahma, a cerveja número um, se apoiando no slogan a Brahma criou um espaço super badalado para que artistas, políticos, empresários pudessem assistir com todas as mordomias os desfiles de samba no sambódormo, eles tornaram o uso da camiseta com o logotipo da Brahma obrigatório para todo os participantes para que qualquer celebridade que viesse a conceder entrevistas para emissoras de TV acabasse se tornando um agente de marketing da Brahma. E com isso o camarote da número um acabou se tornando o espaço mais desejado do carnaval.
Inclusive um sobrinho do Jorge Paulo chegou até a pedir para que ele pudesse frequentar o espaço também, o qual Jorge Paulo Lemann sempre bem humorado respondeu aquilo é um negócio, os convites são feitos para as pessoas que me ajudam a ganhar dinheiro, gente famosa e mulher bonita, em qual dessas duas categoria você está?
O sobrinho precisou se contentar em assistir o desfile pela televisão e com tudo isso a máquina implacável de marketing começou a fazer sérios estragos na antártica, os lucros da antártica que em 1995 foram de 161 milhões tinham chegado a 64 milhões em 1998.
Então no momento em que a galera da Brahma achou que tinha batido na pobre da Antártica o suficiente, Marcel Telles fez a oferta. Em 1999 a cervejaria Brahma decide comprar a Antártica formando assim a American Beverage Company, também conhecida como Ambev, o problema é que a recém adquirida era exatamente igual à antiga Brahma, a mesma cultura, os mesmos funcionários com bastante idade, a mesma rigidez e o mesmo tradicionalismo.
Por isso a decisão foi que fosse feito as mesmas medidas que foram implementadas na Brahma logo depois da sua aquisição, com isso a Antartica e a Brahma deixaram de ter uma distinção como dois negócios diferentes e se tornaram não só no papel mas na prática uma única mesma empresa com a mesma cultura que a gente conhece hoje como Ambev.
A cultura da Ambev é muito parecida com a do banco Garantia nos anos iniciais, salário abaixo da média do mercado, trabalho extremo, bônus gordurosos que podem chegar a dezoito vezes o salário do funcionário e muitas possibilidades de crescimento dentro da empresa.
Em 2001 a Ambev começa adquirir negócios pela América do Sul e a se expandir pela América Latina, porque essa era uma forma de liberar espaço para que os seus grandes novos talentos pudessem ganhar oportunidades de prosperar e não se contentar em aceitar ofertas mais generosas de outras empresas concorrentes.
Em 2004 foi feita negociação com uma empresa belga chamada Interbrew, detentora da marca Stella Artois, as duas gigantes globais realizaram uma fusão e se transformaram na segunda maior cervejaria do mundo em faturamento somente atrás da Anheuser-Busch.
O processo de fusão gerou muita polêmica, porque apesar de ser uma fusão, a empresa belga acabou ficando com a maior participação na nova empresa criada, a Inbev, mas apesar de toda polêmica, no final das contas foi a cultura forte e imutável da Ambev que prevaleceu.
Nesse mesmo ano em 2004 o trio de sócios também criou a 3G Capital, uma empresa fundada para locar parte do patrimônio do trio empresas americanas.
Esse fundo chegou a adquirir marcas internacionais tipo Burguer King e mais recentemente a Heinz até em sociedade com o mega investidor Warren Buffet e em 2008 a Inbev adquire a maior cervejaria do mundo, a Anheuser-Busch e aí essa aquisição resultou na empresa mais valiosa da América Latina, a ABInBev.
A partir de 2012 Jorge Paulo Lemann se afastou das empresas que ele controla e passou a se dedicar em projetos na área da educação, hoje seu tempo de trabalho é principalmente locado nas suas duas grandes fundações de filantropia, a fundação Estudar e a fundação Lemann, a fundação Estudar concede a possibilidade de alunos brasileiros realizarem cursos de graduação ou pós graduação aqui e no exterior e a fundação Lemann é voltada para melhorar a qualidade da nossa educação pública no Brasil.
Jorge Paulo Lemann teve seis filhos ao longo de sua vida nos seus dois casamentos e hoje mora com a sua atua esposa Suzana Lemann em Zurich, na Suíça, a sua residência é uma casa simples que difere pouco das casas vizinhas, ele mantém uma dieta saudável até hoje não toma álcool e quando tem fome fora dos horários das refeições principais ele mesmo vai até a cozinha preparar um sanduíche, as vezes quem escolhe o cardápio é a sua mulher, mas nesse último caso é o bilionário que assume a tarefa de lavar louça.
Esse vídeo foi baseado na obra de Cristiane Correa, Sonho Grande, que é basicamente a biografia de Jorge Paulo Lemann, mas focando muito no aspecto de negócios em sua vida.